Tierra Común: Uma Agenda Coletiva para o Futuro

Durante a crise global da saúde, tornou-se mais evidente a urgência de se promover uma agenda que denuncie a imposição de um regime tecnológico baseado no extrativismo e vigilância de dados.

Nesse contexto: quais devem ser as prioridades de Tierra Común? Onde e como devemos começar a implementá-los? A fim de dar uma resposta coletiva a essas preocupações, os integrantes do Tierra Común se reuniram virtualmente no dia 28 de outubro por meio da plataforma Jitsi [1]. O TC3, terceiro evento organizado pela rede TC, teve como objetivo compartilhar ideias sobre as potencialidades futuras da iniciativa. No diálogo, identificamos convergências importantes que gostaríamos de abordar a seguir.

Uma ideia compartilhada foi que nossa prioridade como rede é a de construir laços de solidariedade. Precisamos de uma rede que possa semear novos links e relacionamentos para repensar como e onde participar ativamente do complexo processo de decolonização de dados.

A questão de onde é particularmente importante, porque na América Latina a decolonização de dados tem a ver com a construção de uma oportunidade de criar novas relações com os movimentos decoloniais existentes. Uma das propostas foi a de resgatar a herança do teatro do oprimido[2] para esse novo tema. Outra proposta foi promover a criação de espaços onde os jovens possam participar, atuar e repensar sua relação com os dados. Em suma, construir espaços contra-hegemônicos para as tecnologias como forma de promover várias expressões de encontros decoloniais. Nesse sentido, a TC tem o desafio de se firmar como um lugar que abre oportunidades de articulação e diálogo entre diferentes comunidades.

Mas também temos que abordar seriamente a questão de como. Uma prioridade da TC deve ser fomentar relacionamentos orgânicos para apoiar a aprendizagem e o intercâmbio que contribuam para gerar estratégias para reverter as assimetrias de poder. Achamos que a decolonização de dados deve ser uma dessas estratégias. Para a rede é importante que cada um dos seus membros proponha, partilhe e promova iniciativas dos respetivos contextos, promovendo tanto a divulgação de ideias como a criação coletiva. Temos que pensar e materializar a decolonização em vários lugares.

Daí decorre a necessidade de definir a ética e os valores da rede. Alguns membros enfatizaram que a rede TC deve construir formas de integrar a academia, ativistas e comunidades, atendendo às suas necessidades. Da mesma forma, priorizar a valorização das comunidades locais e espaços abertos de colaboração com elas.

Para que possamos atender a essas prioridades, devemos fortalecer a rede intra-TC, promovendo o intercâmbio de projetos, ideias e publicações. Uma ideia para um passo em frente sugerida por alguns membros foi começar fazendo algo que seja viável, pequeno e mensurável (como ponto de partida). Entre essas pequenas iniciativas, pode estar a organização de campanhas, eventos e debates. Isso não apenas evitaria a frustração, mas esses “atos de incidência menores” poderiam servir para apoiar ainda mais os compromissos orgânicos (dentro da rede ou de uma forma mais localizada).

No longo prazo, a TC também deve ter um impacto maior nas políticas que mantêm o colonialismo de dados. Mas o ponto de partida deve ser construir uma comunidade de apoio que esteja comprometida em trabalhar para a decolonização dos dados de seus locais.

Como ponto de partida, as prioridades práticas são claras. Em primeiro lugar, continuaremos a organizar workshops, palestras e eventos locais que possam fazer com que a “Tierra Común” aconteça em qualquer lugar, uma Tierra Común sem limites ou fronteiras, tanto quanto possível. Começaremos com pequenos projetos que enfocam três pilares temáticos: tecnológico, não tecnológico e acadêmico. Promoveremos pequenos eventos de defesa de direitos para apoiar as comunidades locais e promover iniciativas junto com elas.

Voltando-nos para nossos recursos atenciosos, coletaremos as histórias, táticas e estratégias que funcionaram para resistir, reinventar ou mudar o poder em outros movimentos decoloniais. Organizaremos grupos de leitura para ajudar a conectar a rede TC. Faremos contato com pessoas que trabalham em grandes empresas de tecnologia ou em organizações multilaterais com o objetivo de discutir os problemas do colonialismo de dados, mas sempre "nos nossos termos". Desenvolveremos um boletim informativo para melhor comunicar o que foi feito e em que estão. Membros estão trabalhando no momento. Vamos estabelecer grupos de trabalho temáticos para promover nossas discussões.

E por último, conforme sugerido por Guiomar Rovira Sancho, promoveremos a realização de um “café virtual” para promover conversas informais em grupos menores. Fortalecer a rede TC também envolverá promover pequenas redes dentro da mesma.

Há muito trabalho para nós, mas nestes tempos difíceis, o esforço comum é o que pode nos dar esperança. Obrigado a todas as pessoas que contribuíram com suas idéias e energia!

Nick e Paola

[1] Um agradecimento especial à Louise Marie Hurel S. Dias que estava encarregada da logística, da facilitação técnica, da documentação e da relatoria do evento.

[2] Teatro do oprimido https://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_do_oprimido

Nick Couldry e Paola Ricaurte

Nick Couldry é sociólogo e professor de mídia e teoria social na London School of Economics and Political Science, e desde 2017 é professor associado no Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard.

Paola Ricaurte tem um PhD em Ciências da Linguagem na linha de Análise do Discurso e Semiótica da Cultura da Escola Nacional de Antropologia e História. Ela é professora associada de pesquisa no Departamento de Mídia e Cultura Digital do Tecnológico de Monterrey e membro da Faculdade Associada do Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard (2019-2020), onde também foi bolsista (2018-2019).

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